segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Primeira de 7

Serenidade

A formação do sereno é muito comum nas noites de tempo tranquilo e calmo, quando a temperatura baixa do solo afeta o ar, fazendo o vapor atingir o ponto de saturação.É um fenômeno vinculado à capacidade do ar para incorporar e reter vapor de água. Sereno lembra orvalho. Esse, por sua vez, forma-se nas noites claras, porque nelas as superfícies descobertas irradiam calor para a atmosfera.
Serenidade retratada em paisagem, materializada como fenômeno da natureza, traduzida em poesia.
Na prática: tranquilidade de existir, não se entregar à aflição.
Aristóteles em "Ética a Nicómaco" afirma que qualquer um pode zangar-se, pois isso é muito simples. Mas zangar-se com a pessoa adequada, no grau exato, no momento oportuno, com o propósito justo e de modo correto, isso, não é tão fácil.
Reinhold Niebuhr, em uma das muitas versões da célebre reflexão citada a seguir, chama de Serenidade a aceitação das coisas que não podemos modificar, o encorajamento para modificar aquelas que podemos e a habilidade de distinguir umas das outras.
Reparem que não é fácil tematizar uma virtude sem envolver outras, de modo que as relações estabelecidas entre elas é que contextualizam suas aplicações. É difícil ordenar por importância ou por qualquer outra característica, já que tratam-se de interpretações abstratas fortemente interligadas onde conceituar implicaria "limitar" a situação a uma visão segmentada de um todo mais "rico" do que a soma das partes(a teoria gestáltica que o diga!). Isso é facilmente notável nas obras dos ilustres filósofos que contribuíram com suas reflexões à humanidade. A filosofia é racional, porém, seu percurso parte da abstração. Então, quem sou eu para tentar essa façanha(determinar uma ordem) num discreto irrelevante blog pessoal? Contudo, é possível considerar a virtude em destaque um componente do paradigma social contido "na personalidade humana" como facilitador do progresso evolutivo inter e intrapessoal dos indivíduos.

Schopenhauer diz que nada que não seja a serenidade pode substituir com segurança e abundância outro bem. Se alguém quiser julgar a felicidade de um indivíduo rico, jovem, belo e honrado, que se pergunte se também é sereno; do contrário, se é sereno, resulta indiferente que seja jovem ou velho, pobre ou rico: é feliz. Sendo assim, devemos abrir todas as portas à serenidade sempre que ela chegar, pois ela nunca é inoportuna. Muitas vezes, porém, hesitamos em deixá-la entrar, pois primeiro queremos nos perguntar se realmente temos motivos para ser serenos, ou se a serenidade não nos abstrairia das nossas reflexões sérias e preocupações graves. Mas, enquanto as vantagens que estas, nos proporcionam são incertas, a serenidade é o ganho mais seguro, e, visto que vale apenas para o presente, ela representa o bem supremo para os seres cuja realidade tem a forma de um presente indivisível, situados entre dois tempos infinitos. Se a serenidade é o bem que pode substituir todos os outros, mas que, por sua vez, não pode ser substituído por nenhum outro, deveríamos antepor a aquisição desse bem a qualquer outra aspiração.
Pequenos desafios são superados; irritação que se faz controlada; desafios emocionais corrigidos; vontade bem direcionada; ambição freada, são experiências para a aquisição da serenidade. A serenidade harmoniza, exteriorizando-se de forma agradável para os circunstantes. Inspira confiança, acalma e propõe afeição. Diante de quem engana, traindo sua confiança, seu ideal, ou envolvendo em confusões, o ideal é manter-se sereno.O enganador é quem deve estar inquieto.
Divaldo P. Franco, inspirado por Joanna de Ângelis, vem fechar com chave de ouro a primeira parte do "tratado das virtudes": "todo homem sábio é sereno e já venceu grande parte da luta porque sabe exatamente o que deseja da vida".

2 comentários:

  1. É, confesso que aprendi mais durante esse texto do que com uns 10 livros que já li... sem contar que ainda estou longe de ser uma pessoa serena... mas tudo bem, a vida é um aprendizado, essa é a minha próxima lição. Boa semana!!
    Bj.

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  2. A grande lição de todos nós. Difícil é perceber a diferença entre ser sereno ou apático. Entre essas duas opções fico com a inquietude[:-P]...traço forte e comum em se tratando de Cris e de alguém que prestigia um blog inquieto: O Tony! Excelente semana! Bjo.

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